
Sujeito e predicado nas principais gramáticas do português
É frequente, no ensino básico, a indicação de que a oração conste de dois termos essenciais. Assim, duas gramáticas apresentam definições percebidas como “tradicionais” a esse respeito: a Gramática Normativa da Língua Portuguesa esclarece que o sujeito é “o ser de quem se diz algo” e o predicado é “aquilo que se diz do sujeito” (ROCHA LIMA, 2011, p. 288); na Breve Gramática do Português Contemporâneo, o sujeito “é o ser sobre o qual se faz uma declaração” e o predicado é “tudo aquilo que se diz do sujeito” (CUNHA; CINTRA, 2004, p. 89). Há, no entanto, outras definições que tornam mais complexo o entendimento dos termos.
Ao tratar do sujeito e do predicado, a gramática Gramática Escolar da Língua Portuguesa não inicia a explanação equiparando os dois termos na essencialidade da oração, tal qual fossem de igual valor, mas dá ao predicado o papel da centralidade oracional fornecida pelo verbo. Insiste que a “[…] natureza semântica (de significado) e sintática (de relação gramatical) determinará se a predicação da oração é referida a um sujeito, ou não” (BECHARA, 2010, p. 15), e o termo referente dessa predicação é chamado sujeito. Noutra gramática do mesmo autor, a Moderna Gramática Portuguesa, o sujeito é visto como “[…] unidade ou sintagma nominal que estabelece uma relação predicativa com o núcleo verbal para constituir uma oração” (BECHARA, 2015, p. 427).
Voltando-se para a Gramática Descritiva do Português, vê-se que os sintagmas representam os grandes constituintes que são considerados “constituintes imediatos da oração” (PERINI, 2005, p. 68), isso significa que os sintagmas assumem a função de sujeito, predicado e objeto. Como cada sintagma pode ser analisado em sua estrutura sintática interna, os constituintes imediatos são aqueles que, numa árvore sintática, “[…] aparecem imediatamente abaixo do nódulo correspondente à oração […] representam, por assim dizer, o primeiro corte realizado na estrutura oracional” (PERINI, 2005, p. 71). Nesse caso, sujeito é “[…] o termo da oração que está em relação de concordância com o NdP [núcleo do predicado]” (PERINI, 2005, p. 77).
Os conceitos mencionados podem ser avaliados, se comparados mediante síntese apresentada no quadro abaixo.
Gramática | Sujeito | Predicado | Essencialidade do par sujeito/predicado |
GNLP Rocha Lima | O ser de quem se diz algo | Aquilo que se diz do sujeito | Sim |
BGPC Cunha e Cintra | O ser sobre o qual se faz uma declaração | Tudo aquilo que se diz do sujeito | Sim |
GELP Bechara | O termo referente da predicação | Referência indicada pela natureza semântica e sintática de um verbo | Não * ênfase no predicado |
MGP Bechara | Sintagma nominal que estabelece relação predicativa com o núcleo verbal | Referência indicada pela natureza semântica e sintática de um verbo | Sim (parcialmente) * o par orienta a relação predicativa constituída como “favorita” na LP |
GDP Perini | O termo da oração que está em relação de concordância com o núcleo do predicado | Função assumida por um dos constituintes imediatos, sendo composta unicamente pelo verbo, ou por sua forma perifrástica | Não * Os sintagmas que são tratados como essenciais, não o par suj./pred. |
Fonte: Costa Júnior (2022).

Referências
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. ed. 38. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. ed. 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
COSTA JÚNIOR, D. F. Termos oracionais e arquétipos conceptuais: uma análise contrastiva de conceitos das gramáticas normativa, descritiva e cognitivista. In: VASCONCELOS, A. W. Reflexões sobre os estudos da linguagem na contemporaneidade. Ponta Grossa: Atena, 2022.
CUNHA, C.; CINTRA, L. Breve gramática do português contemporâneo. ed. 17. Lisboa: João Sá da Costa, 2004.
PERINI, M.A. Gramática descritiva do português. ed. 4. São Paulo: Ática, 2005.
ROCHA LIMA, C.H. Gramática normativa da língua portuguesa. ed. 49. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.