Gramática,  Sociedade

Fala-se récorde ou recorde?

Dois estudantes questionaram-me: “Professor, o certo é récorde ou recorde?”

Vejamos…

É muito comum ouvir, dos brasileiros, dúvidas relativas à tonicidade das sílabas. Isso se deve ao nosso “jeitinho” em adaptar tudo o que é externo ao nosso modo de comunicar. Sim, por aqui se adoram os empréstimos linguísticos, muitos deles completamente desnecessários. Por que motivo falaria “trabalho” ou “bico”, se posso soar elegante (às vezes pedante) ao dizer job? Para que falar um simples “orçamento”, se podemos dizer budget?  

Há momentos em que o excesso de imitação estrangeira prejudica nossa própria percepção das regras do português. Ainda me lembro, na Copa do Mundo de 2014, quando um famoso narrador esportivo resolveu comentar que o futebolista lusitano, em sua percepção, “preferia ser chamado de NaNI” em vez de “NAni”. Na verdade, não era questão de preferência, mas sim de uma das regras mais naturais do português, aquela em que os fonemas representados pelas letras “i” e “u” atraem a força para si, caso estejam no final da palavra (ex: jabuti, cupuaçu, saci, bambu etc.).

A palavrinha inglesa “record” encontra-se plenamente lexicalizada na língua portuguesa, mas foi aportuguesada de maneiras distintas: uma em forma paroxítona, com ênfase na sílaba -COR-, e outra em forma proparoxítona, com ênfase na sílaba RE-. Seu significado, de acordo com o Dicionário Houaiss, é descrito com as seguintes acepções:

1. (subs.) desempenho excepcional comprovado que supera os anteriores 

Ex: ‹O recorde (ou récorde) olímpico dos 100 metros


2. (adj.) extraordinário ou que supera os outros de seu tipo, gênero etc. 

Ex: ‹o programa teve audiência recorde (ou récorde).

Portanto, a resposta para a pergunta-título é: ambas as grafias e as pronúncias estão corretas. Nesse caso, tanto a forma recorde quanto a forma récorde são aceitas na língua portuguesa.

Vale ressaltar que, caso você prefira utilizar a forma inglesa record, o vocábulo deverá vir com recurso de itálico, ou aspas (se escrito à mão), no entanto torna-se um uso desnecessário em virtude do seu aportuguesamento.

Há também a homonímia, vocábulo com mesma pronúncia e escrita, mas esse dificilmente você teria dúvidas, pois é um contexto de uso muito distinto: o do verbo recordar em algumas conjugações.

Ex:

‹Mesmo que ela se recorde, dirá que se esqueceu.› (verbo recordar)

‹Usain Bolt quebrou todos os recordes de sua categoria.› (substantivo recorde)

E agora… que tal pesquisar mais palavras que já foram aportuguesadas? Futebol, bufê, leiaute, uísque, champanhe, xampu etc. são muitos os exemplos que não mais precisam da grafia original estrangeira, pois a língua está em constante crescimento e processos de adaptação.

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